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Domingo, 24 de março de 2024

Cultura

Oscar Santana conta casos de troca de farpas e de trabalho em conjunto com Glauber Rocha

Ele diz que os dois faziam parte de grupos diferentes do cinema baiano, mas acabaram atuando juntos

Oscar Santana conta casos de troca de farpas e de trabalho em conjunto com Glauber Rocha

Foto: Matheus Simoni/Metropress

Por: Juliana Almirante no dia 22 de janeiro de 2020 às 12:48

O cineasta e roteirista soteropolitano Oscar Santana falou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (22), sobre a sua relação com o também cineasta Glauber Rocha. Ele relata que os dois faziam parte de grupos diferentes e chegaram a trocar farpas em artigos de jornais, mas acabaram trabalhando juntos, quando a produtora de Oscar acabou fazendo um filme dirigido Glauber. 

"Ele (Glauber) dava 'pau' na gente, porque a gente era da escola americano. (Eles eram) de esquerda e a gente, naquele tempo, não estava preocupado com direita e esquerda. A gente sabia que americano fazia muito filme e a gente queria fazer muito filme também", disse. 

O roteirista conta que também resolveu responder a Glauber com outro artigo no jornal. “Eu disse: ‘Pior são vocês. Porque lá eram 12 caras e mais um. E, naquela época tinha lançado um filme ‘2 homens e uma Sentença. E eu disse: pior são vocês, que são 12 homens e nenhuma sentença (risos)”, relembra.

Trabalho conjunto

Naquela época, Glauber integrava a produtora Yemanja Filmes, com posicionamento político mais de esquerda. Já Oscar era da Iglu Filmes, inspirado nas produções americanas. Oscar afirma que, mesmo em outro grupo, Glauber se aproximou da sua produtora com interesse de dirigir o filme “Barravento”.

Inicialmente, quem começou a direção do longa foi um colega de Glauber, Luiz Paulinho. No entanto, Oscar afirma que ele sabia que o diretor inicial não teria condições de concluir o filme, o que acabou acontecendo. Foi quando Glauber sugeriu que ele mesmo fizesse a direção, dizendo conhecer o roteiro. “Na versão de Paulinho, era romântico. Glauber viu nisso possibilidade de fazer filme social, que era o ponto de vista dele, e modificou completamente o roteiro.  Nós produzimos o barravento para Glauber. Se não fosse a Iglu Filmes, Barravento talvez não tivesse nunca despontado na cinematografia”, conta. 

Oscar reconhece a importância de Glauber não apenas  como cineasta, mas como um pensador, por levar sua forma de ver o mundo para fora do Brasil. “Costumo dizer que ele (Glauber) era menos cineasta e mais pensador. Ele era homem de visão realmente fronteiriça. Ele precisava dessa oportunidade, porque ele levou nome do Brasil para fora das fronteiras”, disse. 

Obra

Diretor de filmes como “Caipora” e “Pistoleiro”, Oscar diz que sempre buscou um princípio social em suas produções cinematográficas. “Aparentemente não, mas quando se aprofunda, sim”, destaca. A relação com a sétima arte começou cedo, quando ainda era criança e projetava filmes para os colegas. Para ele, sem o cinema, sua vida teria sido marcada pelo tédio. 

“Tenho impressão que tristeza iria me abater se eu não tivesse feito cinema na vida. Ao ponto de morrer de tédio. Sou do tempo que pegava caixa de sapato, fazia um rombo no fundo, botava um arame do tipo manivela, enrolava uma figura de Pafúncio, as tirinhas mais famosas daquela época. Eu botava uma vela atrás e passava, como se fosse um filme, para os meus amiguinhos pequenos. Então tinha fascínio enorme pelo cinema", diz.