Saúde
‘Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir’, alerta Francisco Hora Fontes
Coordenador do Laboratório do Sono fala sobre as dificuldades causadas pela tecnologia nos hábitos dos pacientes
Foto: Matheus Simoni/Metropress
O médico pneumologista Francisco Hora Fontes, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português, falou em entrevista à Rádio Metrópole hoje (27), sobre as dificuldades que a tecnologia trouxe para o sono.
“Nós tínhamos hábitos cotidianos bem regulados. As pessoas tinham tempo. É um paradoxo. O que a tecnologia nos trouxe, nos roubou: tempo. A coisa mais preciosa que tínhamos era o tempo e não temos mais. E não temos tempo para dormir. Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir. Se você vai dormir, você está repassando os hábitos, seu e-mail, está pensando no que vai fazer amanhã. Isso traz uma inquietação”, alerta.
Francisco Hora Fontes afirma que um dos tipos de insônia mais comuns é aquele em que aprendemos a não dormir, porque usamos o tempo para atividades cotidianas.
“A famosa insônia de hoje é a famosa insônia aprendida. De quem aprende a não dormir. Você se condiciona a não dormir, porque é a hora que você tem para determinadas tarefas. É o momento que tem para pensar. As pessoas precisam emocionalmente de válvula de escape”, diz.
O pneumologista defende que, na prática da medicina, é importante gostar de gente e ser ouvinte do paciente.
“Acho que, com toda a tecnologia que temos hoje, a grande magia do médico é gostar de gente, de conversar com gente. Se você não gosta, a medicina oferece possibilidade de trabalhar numa máquina, vendo e administrando imagens ou lâminas. Você pode ser bioestatístico na área médica. Tecnicamente, não tem que conversar com o sofrimento alheio, nem nada, mas não foi isso que eu esperava do que eu queria fazer”, conta.
Para ele, a doença pode ser entendida como uma “abstração”, que pode ser sentida de formas diferentes. Francisco Hora Fontes ainda critica os burocratas que reduzem a medicina a algoritmos.
“A medicina nunca vai funcionar assim (de forma burocrata). Porque essa abstração, que é o sofrimento, você não vai mensurar, a não ser com olhos de ver, com coração de ouvir e bunda para sentar. Se você não tiver paciência de conversar com seu paciente, você não vai entrar nunca na alma dele. A melhor forma de ajudá-lo é assim. Se não, não faz sentido ser médico, ele vai no 'Dr. Google' e vai ter tudo, diagnóstico, tratamento. Mas a relação entre médico e paciente é de alguém que está vulnerável naquele momento à procura de alguém que pode diminuir ou postergar aquela vulnerabilidade”, avalia.
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