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‘Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir’, alerta Francisco Hora Fontes

Saúde

‘Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir’, alerta Francisco Hora Fontes

Coordenador do Laboratório do Sono fala sobre as dificuldades causadas pela tecnologia nos hábitos dos pacientes

‘Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir’, alerta Francisco Hora Fontes

Foto: Matheus Simoni/Metropress

Por: Juliana Almirante no dia 27 de janeiro de 2020 às 12:19

Atualizado: no dia 09 de maio de 2023 às 14:33

O médico pneumologista Francisco Hora Fontes, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português, falou em entrevista à Rádio Metrópole hoje (27), sobre as dificuldades que a tecnologia trouxe para o sono.

“Nós tínhamos hábitos cotidianos bem regulados. As pessoas tinham tempo. É um paradoxo. O que a tecnologia nos trouxe, nos roubou: tempo. A coisa mais preciosa que tínhamos era o tempo e não temos mais. E não temos tempo para dormir. Não temos tempo para nos aquietarmos para dormir. Se você vai dormir, você está repassando os hábitos, seu e-mail, está pensando no que vai fazer amanhã. Isso traz uma inquietação”, alerta.

Francisco Hora Fontes afirma que um dos tipos de insônia mais comuns é aquele em que aprendemos a não dormir, porque usamos o tempo para atividades cotidianas. 

“A famosa insônia de hoje é a famosa insônia aprendida. De quem aprende a não dormir. Você se condiciona a não dormir, porque é a hora que você tem para determinadas tarefas. É o momento que tem para pensar. As pessoas precisam emocionalmente de válvula de escape”, diz.

O pneumologista defende que, na prática da medicina, é importante gostar de gente e ser ouvinte do paciente. 

“Acho que, com toda a tecnologia que temos hoje, a grande magia do médico é gostar de gente, de conversar com gente. Se você não gosta, a medicina oferece possibilidade de trabalhar numa máquina, vendo e administrando imagens ou lâminas. Você pode ser bioestatístico na área médica. Tecnicamente, não tem que conversar com o sofrimento alheio, nem nada, mas não foi isso que eu esperava do que eu queria fazer”, conta. 

Para ele, a doença pode ser entendida como uma “abstração”, que pode ser sentida de formas diferentes. Francisco Hora Fontes ainda critica os burocratas que reduzem a medicina a algoritmos.

“A medicina nunca vai funcionar assim (de forma burocrata). Porque essa abstração, que é o sofrimento, você não vai mensurar, a não ser com olhos de ver, com coração de ouvir e bunda para sentar. Se você não tiver paciência de conversar com seu paciente, você não vai entrar nunca na alma dele. A melhor forma de ajudá-lo é assim. Se não, não faz sentido ser médico, ele vai no 'Dr. Google' e vai ter tudo, diagnóstico, tratamento. Mas a relação entre médico e paciente é de alguém que está vulnerável naquele momento à procura de alguém que pode diminuir ou postergar aquela vulnerabilidade”, avalia.